A pluralidade de culturas e épocas pontuadas em objetos singulares e reunidas em um ambiente com paredes de um alaranjado quente, pode ser apreciada no projeto de João Mansur para o retrofit e o restauro de um apartamento com cerca de 25 anos e 650 m2, em São Paulo.
O imóvel, com vista para o Parque do Povo, guarda parte de uma coleção de móveis e obras de arte do morador e tem decoração alinhavada por um elemento singular: a luminária Lacrime del Pescatore de Ingo Maurer, disposta em um ponto quase central, sobre a ampla mesa no living integrado aos demais ambientes sociais: bar, varanda, jantar e sala de TV.
“’Lacrime’ é um ícone do design, traz grande transparência, leveza e brilho ao ambiente dramático, beirando a teatralidade, e faz o ponto de equilíbrio perfeito entre clássico e contemporâneo”, pontua o arquiteto.
A base arquitetônica sólida e a ousadia com que mescla materiais nobres, cores fortes e iluminação precisa são marcas registradas do trabalho de Mansur.
Ao abrir do elevador, no foyer, o preto e o dourado se apresentam de maneira soberana em superfícies e detalhes com inspiração oriental. No chão, placas de mármore italiano Nero Portoro são delicadamente pontuadas por juntas de latão polido e dão a base para a porta de folha dupla com argolas antigas.
Nas paredes, a douração executada à mão pelo Atelier Adriana e Carlota faz jus ao valor do tempo impregnado nas figuras policromadas de guerreiros chineses datadas do século 18, que dominam o olhar em dois nichos de acrílico.
Logo ali, à esquerda de quem entra, o lavabo esmiúça a complexidade das combinações de toda morada: sob a iluminação com régua LED rebaixada e spots focais, a mesa francesa foi adaptada e sustenta a cuba laranja e os metais dourados. O conjunto fica logo à frente de uma parede totalmente espelhada, onde está sobreposto o espelho veneziano antigo, e que reflete o revestimento em tecido com motivos japoneses, por Lorenzo Castillo.
Os ambientes de cada sala são delimitados pelos LEDs nas tabicas e os spots embutidos e direcionais ficam responsáveis por dar destaque aos detalhes decorativos e aos objetos de arte. No estar com TV, os capitéis com inspiração jônica quebram a obviedade do que se espera de um espaço de descanso com sofás amplos e poltronas aconchegantes.
Sobre a ampla mesa de jantar desenhada pelo arquiteto João Mansur, que acomoda as dez cadeiras medalhão folheadas em prata e revestidas com veludo em dois tons e texturas, está o par de lustres franceses antigos em cristal, seda e prata. O clássico se alinha aqui às três redes contemporâneas de nylon que sustentam os 385 cristais, as ‘lágrimas’ da Lagoa de Veneza, e tecem a obra de Ingo Maurer, desenhada há mais de três décadas e trazida ao Brasil pela FAS Iluminação.
Se a poética de Lacrime del Pescatore dialoga com a classe do jantar, também o faz com a luz diurna que invade a varanda ampla do apartamento, incorporando o brilho do sol em seus dois metros de extensão. Quando se deseja, porém, um clima mais ameno e íntimo, as cortinas romanas em palha de bananeira descem.
Para arrematar o olhar que paira sobre cada nova descoberta em minúcias deliciosas, o bar recruta sobre si delicados cristais e um quadro abstrato do artista colombiano Omar Rayo (1928-2010).
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